Blocos de Rega de Vale do Gaio, Cancelinha 1
Enquadradas na minimização de impactes decorrentes da execução dos Blocos de Rega de Vale do Gaio (Fase de obra), a ERA efetuou ações arqueológicas no sítio da Cancelinha 1 de 18 de Dezembro de 2014 a 27 de Janeiro de 2015. Durante o acompanhamento de obra associado ao projecto, foi identificado na C1 de Alvito Alto, entre os PK 0+300 e 0+437, um conjunto de possíveis estruturas negativas de carácter arqueológico.
Procedeu-se à execução de um total de 18 sondagens arqueológicas, em três fases de trabalho, num total de 75,25 m2, para escavação dos referidos contextos. Estas sondagens foram implantadas no local de acordo com a área de afetação e com os vestígios existentes à superfície. Na 1.ª fase dos trabalhos, a intervenção nas sondagens 3, 7, 8 e 15 permitiu observar que se tratavam de contextos de cariz natural, não antrópicos e sem contextos arqueológicos preservados.
Nas restantes sondagens realizadas nesta fase foi identificado um conjunto de estruturas negativas escavadas no substrato geológico, nomeadamente: sete fossas circulares, de perfil em forma de saco ou em U, com profundidades variáveis entre os 0,20 m e os 1,40 m; uma estrutura negativa em forma de 8, com duas fossas geminadas; duas estruturas que se podem enquadrar nas estruturas tipo fundo de cabana e um hipogeu.
Uma destas estruturas, de carácter funerário, apresentava uma câmara principal e uma pequena antecâmara, tipo fossa sub-circular. No seu interior exumou-se um pequeno conjunto de ossos sem continuidade anatómica em muito mau estado de preservação. Devido à fraca preservação do material ósseo, apenas foi exequível o cálculo do NMI (Número Mínimo de Indivíduos), tratando-se de, pelo menos, um indivíduo. Todos os outros parâmetros paleobiológicos (idade à morte, diagnose sexual, estatura e observação de patologias) não puderam ser realizados.
A cultura material observada revelou-se bastante homogénea, apontando para uma diacronia de ocupação relativamente limitada no tempo, durante a Idade do Bronze, mais concretamente o Bronze Final ou um período de transição Bronze Pleno/Bronze Final. Corresponde maioritariamente a taças de carena alta e vasos de armazenagem, de média e grande dimensão, com paredes brunidas, sem qualquer tipo de decoração. Pontualmente, foram observados mamilos e pegas nas paredes exteriores destas peças.
Este tipo de agrupamentos de estruturas negativas tipo fossa e sem estruturas positivas conhecidas, trazendo algumas dificuldades ao nível da sua interpretação, têm vindo a ser identificados em diversos locais do Sul de Portugal. Representam um tipo de ocupação do Bronze Final não conhecida até muito recentemente, de aparente carácter sazonal, em espaços abertos e sem condições naturais de defesa, localizados em planícies ou vales suaves, tendencialmente próximos de linhas de água.