Circuito Hidráulico Baleizão-Quintos, Quinta do Estácio 6

Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos no sítio Quinta do Estácio 6 decorreram no âmbito da minimização de impactes patrimoniais da empreitada do Circuito Hidráulico Baleizão-Quintos e Respectivo Bloco de Rega. Este sítio localiza-se na freguesia de Nossa Senhora das Neves, concelho e distrito de Beja.

Preconizou-se a implantação de 116 sondagens englobando 149 estruturas, perfazendo uma área total de intervenção de 377.94 m2, ao longo do corredor a afetar pela implantação da conduta e estação elevatória. A intervenção resultou na identificação e escavação de um grande número de estruturas de variadas tipologias, correspondendo a uma longa diacronia de ocupação.

A ocupação mais antiga do espaço enquadra-se crono-culturalmente no Neolítico Final, correspondendo a um possível recinto segmentado em módulos — Causewayed enclosures — muito semelhante a outros identificados tanto no Reino Unido como na Meseta (García García, 2013). Este encontrava-se cortado por estruturas negativas do tipo fossa com espólio cerâmico calcolítico no seu preenchimento.

No Bronze Pleno verifica-se que o sítio deixa de ter uma ocupação restrita e passa a ser ocupado em área. Diferenciam-se dois tipos de ocupação: a primeira consiste em grupos de hipogeus funerários compostos por antecâmara de acesso a câmara funerária, encontrando-se este selado por esteios. O segundo corresponde a núcleos de estruturas negativas com reduzido espólio arqueológico, mas que genericamente apontam para uma ocupação de cariz mais doméstico.

                                Estrutura.

Na transição do Bronze Pleno para o Final, observa-se que a tendência de ocupação do espaço passa a centrar-se já no topo da plataforma a uma cota mais elevada. Este núcleo de estruturas negativas apresenta um conjunto de espólio caracterizado por um grande número de fragmentos de recipientes cerâmicos, faunas variadas e indústria lítica de pedra polida (moventes e dormentes) apresentando um cariz doméstico. Destaca-se também uma diferenciação ao nível dos enchimentos das estruturas relativamente às do Bronze Pleno.

Nas estruturas do Bronze Final existe um número maior e mais diversificado de depósitos, compostos inclusivamente por níveis de cinzas e carvões, contrariamente às estruturas de cronologia anterior que genericamente eram preenchidas por dois depósitos. Também na arquitetura funerária e espólio votivo associado assistimos a uma diferença, passando dos hipogeus e hipogeus/fossa para enterramentos no fundo das fossas acompanhados por espólio votivo composto por colares e braceletes em bronze.

O último grande momento de ocupação, se bem que a uma escala reduzida, dá-se na Idade do Ferro, com a construção faseada da necrópole composta por dois recintos e oito sepulturas de inumação. Esta necrópole foi o único contexto desta cronologia identificado em todos os trabalhos realizados na Quinta do Estácio, o que pressupõe a utilização do espaço apenas como funerário, revelando características especificas das sociedades que a construíram.

Por fim, espaçadamente, e com uma maior incidência na parte de baixo, o sítio é ocupado em época Romana na sua fase tardia com a construção de estruturas de auxilio à produção agrícola, no caso um dreno estruturado e duas estruturas negativas. Já em época Contemporânea, relacionada com uma agricultura específica, são escavados quadrados para a plantação de oliveiras.

Apesar de separado por razões burocráticas relacionadas com a própria obra, o sítio Quinta do Estácio 6 deve ser visto como um grande sítio arqueológico que se encontra disperso em todo o monte onde se localiza. Assim, os outros sítios intervencionados nas imediações, Quinta do Estácio 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11 e 12, deveriam compor um vasto sítio com uma longa diacronia de ocupação.

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