Rua da Junqueira, n.º 156/158, Lisboa
Desenvolvidos entre Outubro de 2015 e Maio de 2017, estes trabalhos – Sondagens de Diagnóstico, registo de Poços Geotécnicos, Escavação Arqueológica e Acompanhamento Arqueológico – decorreram no âmbito da empreitada de construção de um condomínio privado no lote n.º 156/158 da Rua da Junqueira, Belém.
A intervenção foi levada a cabo como medida de mitigação de impacte sobre o património, dado que foram postos a descoberto, no decurso da implementação do projeto, vestígios arqueológicos de caráter industrial. Desde logo se permitiu registar 7 grandes momentos estratigráficos, correspondendo a momentos/fases de ocupação/abandono deste espaço de cariz fabril, de cronologia contemporânea.
Verificou-se a existência de um edifício correspondente a uma “fábrica de curtumes”, consubstanciada num conjunto de elementos de planta retangular dispostos pelo lado maior, formando um corpo de padrão ortogonal reticular e de orientação NO/SE. Definidos por muros de diferentes tipologias, estes elementos materializam duas fases de construção deste complexo.
Foram ainda identificados, nas diferentes fases de labores (acompanhamento e escavação), cerca de 86 tanques, tendo-se apenas escavado arqueologicamente 35 destas estruturas, o que corresponde a 43% do total. A partir dos conteúdos dos tanques (presença de grandes manchas de cascas de árvore e de serradura), constatou-se sobretudo as operações de Curtimenta propriamente dita, que era de carácter vegetal, com recurso a banhos de cascas esmagadas no local em moinho de tração animal, estrutura igualmente registada no sítio.
No entanto, o registo arqueológico, corroborado pela informação presente na “Planta da Fábrica de Curtumes, situada na Junqueira” (Arquivo Nacional Torre do Tombo) documentou também a realização (em instalações anexas não abrangidas por esta intervenção) de alguns “trabalhos de ribeira” (Encalagem, Descabelagem, Grosagem e Humada), embora algumas destas ações se tenham desenrolado nos tanques da curtimenta.
Ficou por esclarecer onde se situariam os armazéns para o acondicionamento das matérias-primas (cascas, sal, cal, azeite e excrementos de aves – lixo), para as peles por curtir e couros, o estábulo para o animal de tração, bem como o telheiro ou pátio ao ar livre para realização da surragem.
Em suma, refira-se que esta unidade de processamento de peles ainda recorria a técnicas artesanais ancestrais, não mecanizadas, empregues quer na construção da instalação fabril em análise, quer no processo de curtimenta, ainda de carácter vegetal, sendo muito dependente de fontes diretas de abastecimento de água.
Em função dos resultados descritos, nomeadamente a deteção de um conjunto de vestígios que documentam a existência de uma oficina de curtumes, deu-se por terminada a intervenção na medida em que foi feita a salvaguarda pelo registo arqueológico, considerando-se, portanto, cumpridos os pressupostos e objetivos subjacentes ao plano de trabalhos autorizado pela DGPC.