Centro Multiusos (Antigo Cineteatro), Travessa Cândido dos Reis/Rua Santo António, Chaves
Os trabalhos arqueológicos realizados no âmbito do projeto de reabilitação do edifício do Cineteatro de Chaves, para instalação do Centro Multiusos/Palácio da Água de Chaves, decorreram entre os dias 2 de março e 12 de maio de 2020. A operação dividiu-se em oito fases, entre acompanhamento arqueológico, sondagens e escavação em área.
Durante os trabalhos foi possível estabelecer uma sucessão de ocupações do local, desde o século I d.C. até aos dias de hoje. A ocupação mais recente está relacionada com o atual cineteatro, datado da década de 60 do século passado, e com as suas infraestruturas, nomeadamente o sistema de condutas de ventilação que foi identificado durante a segunda fase de acompanhamento.
A ocupação anterior está relacionada com a sala de espetáculos que ocupava a área em análise, designadamente o cine-parque, cuja construção data dos anos 20 do século passado. Foi possível identificar a base em granito que suportava a parede lateral do edifício, assim como o embasamento de grandes dimensões que lhe servia de suporte. Foi ainda possível determinar que existia uma área de jardim/lazer associada ao cine-parque, pois foi identificada uma calçada em pedra, um piso em cimento e um fontanário já bastante danificado.
Identificou-se uma fase correspondente a um período no qual a área sofreu diversos aterros (mas não aparenta ter tido ocupação aparente). Eventualmente poderá ter sido uma área de cultivo em período medieval. Estes aterros apresentam material essencialmente de cronologia romana, contudo é possível observar alguma cerâmica medieval numa percentagem mais reduzida, assim como algumas moedas.
A fase de ocupação mais antiga está relacionada com o edifício da Época Romana, balizado cronologicamente entre o séc. I e o séc. II d.C. O edifício em análise terá tido sucessivas fases de ocupação, como se observou pela forma como diferentes muros encostam entre si, formando vários compartimentos (seis até ao momento). Os vários muros terão sido saqueados já após o abandono da estrutura, eventualmente já em período medieval, para aproveitamento de pedra.
A funcionalidade do edifício permanece indeterminada (até ao momento), contudo, podemos especular tratar-se de uma domus, cuja fundação remonta ao séc. I d.C., dada a quantidade e variedade de peças de exceção, principalmente de terra sigillata, verificadas nos contextos de aterro do mesmo.