Praça Rodrigues Lobo, Leiria
A intervenção na Praça Rodrigues Lobo permitiu a identificação de uma necrópole que se insere no período medieval/moderno, sendo o estudo dos dados recolhidos durante a escavação arqueológica fundamental para a sua caracterização, representando um contributo para o estudo das necrópoles deste período.
Tanto a análise geral como por fases permitiu observar um predomínio dos indivíduos do sexo masculino, não sendo a menor representatividade das mulheres exclusiva de nenhum momento em particular. Esta característica pode resultar de factores biológicos, isto é, a mortalidade poderá incidir de forma mais sistemática nos homens adultos que nas mulheres adultas, ou pode ser consequência da importância da Igreja de S. Martinho, sendo o adro da mesma reservado a indivíduos adultos do sexo masculino.
A Igreja de S. Martinho desempenhou um importante papel na sociedade de Leiria entre finais do Século XII/ inícios do Século XVI, consequência do desenvolvimento económico e administrativo tanto da vila como da própria paróquia. Em 1442 Leiria passou a ser sede de comarca, sendo-lhe atribuído em 1510 por D. Manuel novo foral.
Em 1545 D. João III, por carta régia, criou o bispado de Leiria e elevou esta vila a cidade. Será sensivelmente por esta altura que a Igreja de S: Martinho foi destruída, tendo em conta as novas conceções urbanísticas do renascimento que implicavam uma noção de espaço mais amplo, em tudo contraditório à cidade medieval, caracterizada por uma caos urbanístico. O Bispo terá cedido o espaço da igreja à cidade cerca de 1546 para a construção de uma nova praça, mais ampla, mais geométrica, de forma quadrangular e circunscrita por um casario de aspeto regular.
Foram, por esta altura, construídos novos edifícios religiosos, como a Misericórdia, o Convento dos Agostinhos e a Sé. Em 1553 um documento dirigido ao rei referia a existência de apenas quatro igrejas, o que implica que nesta data a Igreja de S. Martinho já não existiria.
A data de destruição da igreja tem implícito o fim do uso do seu espaço adjacente como local de enterramentos. No cemitério foram enterrados indivíduos durante quase quatro séculos, cujos rituais refletem um importante estatuto social.
Teria sido fundamental para uma melhor perceção do espaço funerário, sobretudo no que diz respeito às distintas orientações registadas, a identificação da igreja, todavia, esta questão permanecerá em aberto podendo apenas pressupor-se a sua localização.