Anta dos Enxacafres, concelho de Grândola
O trabalho de diagnóstico arqueológico levado a cabo na Anta dos Enxacafres, concelho de Grândola, inseriu-se no âmbito de medidas de minimização de impactes sobre o património decorrentes da implementação do projecto de construção do Lanço A – IP8 – Nó do Roncão (IC33)/Nó de Grândola (IP1), integrando a Subconcessão do Baixo Alentejo.
Trata-se de um monumento megalítico composto por câmara funerária, corredor e segmentos de mamoa pétrea ainda preservada. Localiza-se no topo de uma pequena elevação no terreno, a que se acede por uma estrada de terra batida que parte do lado Este da povoação Cruz de João Mendes.
Na sequência da desmatação da zona de trabalho, e de forma a entender a extensão, arquitectura geral, técnicas e modos de construção do monumento e, igualmente, verificar a presença de eventuais vestígios arqueológicos anteriores à construção da Anta, foram realizadas três sondagens de diagnóstico, abrangendo uma área total de 45m2.
Relativamente ao seu estado de conservação geral, evidenciou-se o bom estado de preservação dos elementos pétreos, cuja matéria-prima – grauvaque – não apresentava alterações relevantes, não se tendo assinalado patologias significativas. A arquitectura do monumento também exibia um razoável estado de preservação, apesar de alguns elementos arquitectónicos removidos ou fragmentados.
Dadas as limitações de conhecimento sobre o fenómeno do Megalitismo no Alentejo Litoral, este monumento adquire uma particular relevância para o seu processo de investigação. Em termos de valor museológico e educativo, o monumento incorpora uma potencialidade de rentabilização que podia ser explorada a partir da sua escavação integral.
ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA INTEGRAL
A intervenção e os seus resultados permitiram a identificação de uma estrutura funerária em cujo tumulus se pôde encontrar, para além do monumento principal, de tamanho médio e composto por câmara funerária poligonal com 8 esteios conservados e corredor pouco demarcado, uma pequena estrutura escavada na rocha interpretada como uma possível sepultura, selada parcialmente por uma laje.
Os materiais e a arquitectura do monumento principal apontaram para uma cronologia de utilização do final do IV milénio AC com uma reutilização nos finais do III milénio AC. A ausência total de espólio de qualquer tipo na estrutura mais pequena não permitiu a atribuição de uma cronologia fiável.
No final dos trabalhos de escavação arqueológica foram realizados os trabalhos de desmonte dos esteios da câmara e corredor do monumento. Estes trabalhos possibilitaram, por um lado, preservar a referida materialidade, o que permitiria no futuro a sua remontagem, e, por outro, expuseram totalmente os alvéolos de implantação dos esteios, o que aprofundou a sua caracterização.
A realização de tais trabalhos assentou num conjunto articulado de tarefas de modo a garantir a preservação dos elementos de pedra, bem como possibilitar uma remontagem correta dos elementos do edifício. Foram ainda realizadas recolhas de sedimentos para análises paleobotânicas, cujos resultados preliminares mostraram claramente o interesse na realização de um estudo mais aprofundado.