11/03/2022 - Escavação traz novos dados para a abordagem dos contextos do 3º milénio a.C
Uma investigação realizada a partir dos dados obtidos pela escavação arqueológica que uma equipa da ERA concretizou numa sepultura pré-histórica na região de Beja, forneceu novos e importantes dados para a abordagem dos contextos sociais e culturais do final do 3º milénio a.C. no Sul de Portugal.
Esta sepultura integrava um indivíduo do sexo masculino, de idade à morte entre os 41 e os 65 anos. Insere-se num tipo de práticas funerárias (Tipo Ferradeira) deste período, caracterizado por enterros individuais de indivíduos associados a um conjunto de artefactos constituído por utensílios de cobre, proteções de pulsos e cerâmica sem decoração. O conjunto presente nesta sepultura integrava exclusivamente elementos de armas, nomeadamente um punhal e três pontas de seta tipo Palmela.
A análise química realizada a este conjunto metálico é consistente com os dados conhecidos para a metalurgia da segunda metade do 3º e início do 2º milénio aC. Confirma-se, de facto, que este período pode ser considerado como um passo de transição entre uma metalurgia à base de cobre mais pura, típica de contextos anteriores, e uma produção de cobre arsenical mais característica da Idade do Bronze Médio.
A sua colocação à entrada de um recinto delimitado por fossos, de cronologia anterior, segue um padrão de reutilização, por determinadas comunidades, de lugares e monumentos significativos do passado. Este parece ser um aspecto importante das práticas funerárias deste período de acelerada mudança social, com tendências contraditórias que caracterizam a complexidade do processo.
Resumindo, este enterro expressa um novo discurso ideológico associado à individualização das sepulturas, que progressivamente deixam de ser colectivas, e às especificidades dos conjuntos votivos. Assim, a exclusão intencional da decoração do vaso campaniforme deve ser entendida como uma afirmação e não apenas como um simples particularismo cultural.