Complexo Arqueológico dos Perdigões
Em janeiro de 2019, na sequência de uma proposta da ERA Arqueologia, o Complexo Arqueológico dos Perdigões foi classificado pelo Estado português como Monumento Nacional. Completaram-se então 22 anos do Programa de Investigação Arqueológica dos Perdigões, coordenado pela ERA Arqueologia S.A. Este foi o primeiro projecto da ERA Arqueologia, iniciado em 1997; e continua!
Os Perdigões são um grande complexo arqueológico abrangendo uma área de cerca de 20 ha, composto por vários recintos delimitados por grandes fossos (estruturas escavadas na rocha), incluindo área de necrópole (cemitérios) e um cromeleque ou recinto megalítico cerimonial definido por diversos menires, cuja fundação remonta ao Neolítico Médio (há cerca de 5500 anos), prolongando-se a sua existência até ao início da Idade do Bronze (há cerca de 4000 anos), representando mil e quinhentos anos de história. O sítio terá representado um papel de grande importancia para as comunidades que habitavam aquela área na Pré-História Recente e seria, provavelmente, um local aglutinador de populações, semelhante a um santuário, que ali se reuniam para a prática de cerimónias rituais, algumas delas relacionadas com o culto dos mortos e dos antepassados. São os vestígios dessas práticas que têm vindo a ser postas a descoberto.
Durante esta década e meia realizaram-se intensos trabalhos de campo, incluindo dezenas de campanhas de escavações arqueológicas, e de laboratório, foram apresentadas comunicações em inúmeros congressos nacionais e internacionais, palestras em várias universidades portuguesas e estrangeiras, publicaram-se cerca de cinco dezenas de artigos em revistas da especialidade e realizaram-se ou estão em curso teses de mestrado e doutoramento sobre aspectos relativos aos Perdigões.
Ao longo dos anos, o Programa Global de Investigação dos Perdigões, orientado pela equipa da ERA Arqueologia, tem coordenado vários projectos específicos, desenvolvidos de forma integrada por várias intituições, como a ERA, as universidades do Algarve, Coimbra e de Málaga, o Instituto Arqueológico Alemão, o Laboratório de Arqueociências do Igespar ou o Instituto Tecnológico e Nuclear.
Nas escavações receberam-se especialistas e alunos de universidades portuguesas, espanholas, inglesas, italianas, francesas ou austríacas.
Em torno dos Perdigões organizou-se um primeiro workshop internacional sobre a temática dos Recintos de Fossos em 2006 e um segundo, em 2016, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, Esporão S.A. e Fundação Milénio BCP.
As investigações em curso, sob coordenação do Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia, têm vindo a ser essencialmente financiadas pela ERA, pelo Esporão e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Várias áreas têm vindo a ser intervencionadas, incluindo-se estruturas negativas como fossos ou fossas, sendo um dos aspectos mais significativos o da presença de multiplos contextos funerários. A sua diversida é notável, incluindo-se sepulcros de inumações secundárias, inumações primárias ou depósitos de restos de cremações humanas datados de há cerca de 4500 anos. Estas últimas práticas funerárias são consideradas pouco comuns na época, suscitando a sua descoberta interessantes questões sobre as visões do mundo e do ser humano que estariam em transformação.
Associadas a estes contextos de cremações humanas tem vindo a ser registado um notável conjuntos de estatuetas antropomórficas em marfim, de grande naturalismo e beleza estética que, conhecidas noutros contextos do sul peninsular, aparecem pela primeira vez em território nacional. O seu significado é assunto de debate entre os especialistas, podendo representar divindades, pessoas ou estatutos sociais concretos, grupos de identidade ou parentesco.
A duração continuada da investigação nos Perdigões, a internacionalização que já alcançou e as preocupações de divulgação pública que sempre o acompanharam, e de que a exposição na torre medieval da Herdade do Esporão é um marco, transformaram-no num dos mais importantes projectos de arqueologia pré-histórica em Portugal, reconhecido pela Revista Almadan no número que dedicou aos grandes projectos da Arqueologia Portuguesa. O estatuto alcançado permite-lhe gozar igualmente de um elevado prestígio internacional que lhe possibilita continuar a alargar a sua rede de colaborações institucionais e a estar na vanguarda da investigação deste tipo de realidades arqueológicas.