Requalificação do Terreiro do Paço, Lisboa
O acompanhamento arqueológico enquadrado no projecto da 3ª fase de remodelação do Terreiro do Paço realizou-se entre 8 de Março e 18 de Maio de 2012. Estes trabalhos justificaram-se por este local se encontrar em Zona de Intervenção de Nível I do Plano Director Municipal de Lisboa, pelo que as obras em curso afectariam uma área com potencial arqueológico.
A recolha de um amplo conjunto de dados permitiu-nos obter um melhor conhecimento da evolução da Praça do Comércio, podendo ser definidos três momentos de ocupação. Deve sublinhar-se que podem existir ocupações anteriores a estas, porém, as profundidades alcançadas neste projecto não permitiram esclarecer a existência de depósitos ou estruturas de origem antrópica sob a Fase 1.
O primeiro momento de ocupação identificado corresponde a uma cronologia pré-terramoto de 1755, incluindo-se nele os troços de calçada de basalto com grande nível de desgaste, observados na área Este da praça e início da Rua da Alfândega, assim como o piso de argamassa junto ao Arco da Rua Augusta. A cota de ambas estas estruturas indicia que o nível da superfície seria aproximadamente um metro inferior ao actual.
A segunda fase tem início com a deposição de uma fina camada de destruição sobre a calçada, seguramente acumulada devido à acção do grande terramoto. Os trabalhos de reconstrução são visíveis, nomeadamente na deposição de níveis de aterro, subindo o pavimento em cerca de 80 cm, assim como na construção de diversos caneiros para escoamento de águas pluviais e domésticas, os quais variam entre estreitas condutas, e os caneiros de grande porte e actualmente ainda em utilização que correm sob a Rua do Ouro e da Prata.
O eixo de estruturas de alvenaria com orifícios ao centro, identificadas paralelamente à fachada do edifício Norte do Paço, podem igualmente ser incluídas neste momento, pois devem constituir vestígios das gruas utilizadas durante a construção deste edifício. Foram registadas 31 destas estruturas, porém, devido aos espaços regulares que as separam, foi possível deduzir a ausência de 33 outras, entretanto desaparecidas, entre a primeira e a última, totalizando um mínimo de 64. Este é provavelmente o número final, já que tanto a primeira como a última estão alinhadas com os cantos do edifício do paço.
Também pertencem a esta fase outras estruturas cuja função não foi possível determinar, mas cujo método de construção em alvenaria de calhaus de calcário e argamassa amarela se situa num momento anterior à segunda metade do século XX. Porém, são necessariamente posteriores ao terramoto de 1755, uma vez que se apoiam nos depósitos de aterro.
A terceira e mais recente fase definida diz respeito às intervenções levadas a cabo na Praça, as quais se concentram durante a segunda metade do século XX e dizem respeito sobretudo à introdução de infraestruturas de água e electricidade, assim como aos pavimentos.