Reabilitação do Palácio Galveias
O Palácio Távora-Galveias, que se encontra hoje plenamente integrado na malha urbana da cidade de Lisboa, era até aos finais do século XIX um edifício, que possuía uma vasta quinta anexa. Desaparecida na urbanização dos últimos trinta anos, pertencia no século XVII aos Távoras. O palácio com o seu logradouro, foi confiscado em 1759, e passou a novo dono, e no princípio do século passado (1801) ia à praça por dívidas à Fazenda; adquiriu-o D. João de Almeida de Melo e Castro, mais tarde 5º Conde das Galveias, do qual transitou na família até ao final do século passado, a quando da venda a Braz Simões.
O Palácio caiu então em abandono até à negociação entre a Câmara Municipal de Lisboa com os proprietários deste resíduo rústico-urbano seiscentista. Um ano depois (1929) estava assente que o Palácio, que muitas e quase radicais obras teria de sofrer, seria sede de Arquivo, Biblioteca e Museu. Foi o vogal da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, o comandante Quirino da Fonseca, o incentivador e realizador da ideia. E restaurou-se o Palácio, beneficiando de pintura decorações, mais ou menos felizes; o jardim, trecho do antigo, foi organizado em parque-museu (ARAÚJO, N., 1939, p.69-70). Este processo ficou concluído a 5 de Julho de 1931 com inauguração no Campo Pequeno a nova Biblioteca Central, numa cerimónia que incluía a presença do Presidente de República, Óscar Carmona, ministros, e outros altos dignitários. Juntamente com a Biblioteca, era inaugurado no mesmo espaço o Museu Municipal, com secções numismática e oriental.
A ERA Arqueologia e Conservação entra assim em conjunto com a CARI, S.A. num património que é de todos. Sendo que, neste caso, ficou sobre a supervisão técnica do projecto a Divisão de Salvaguarda de Património Cultural da autarquia, também responsável pelo projecto de intervenção.
A coordenação geral e execução dos trabalhos de conservação e restauro de Património Integrado ficou a cargo das nossas equipas nas seguintes áreas:
- Cantarias
- Pinturas murais
- Estuques
- Madeiras
Os trabalhos tiveram como princípio o levantamento exaustivo do estado de conservação de todo o património a reabilitar, com base no qual se definiram as acções a levar a cabo.
Do mesmo modo, cada acção directa foi precedida da realização de testes e amostras, no sentido de aferir quais os produtos, materiais ou técnicas mais adequados a utilizar nas diferentes áreas de actuação.
Todas as cantarias foram limpas, consolidadas e as lacunas preenchidas com argamassa tradicional, sendo que foram também adaptadas cromaticamente com a sua envolvência e contexto.
Os trabalhos de pintura mural, com grande preponderância nos tectos, são compostos por motivos vegetalista ao qual foi adicionado, pontualmente, o brasão da casa real portuguesa. Estes foram estabilizados na sua composição físico-química, primeiro do suporte, e depois das camadas polícromas. As acções de consolidação foram cruciais quanto à subsistência e à vitalidade. As execuções das reintegrações cromáticas das lacunas foram sustentadas pelo trabalho prévio e bastante criteriosas e cuidadosas. Assim sendo, perante cada caso optou-se pela reconstituição figurativa ou se assumiu a ausência de figuração, mediante solução cromática que devolvesse a melhor leitura global ao conjunto.
Quanto aos estuques foi realizado um trabalho meticuloso de reconhecimento de todos os elementos decorativos de estuque, de forma a definir quais seriam para tratar e quais seriam para replicar.
Os trabalhos de conservação e restauro das madeiras centrou-se nos armários das salas de consulta da biblioteca, fortemente marcados por uma utilização contínua e que agora, após a intervenção por parte da ERA, ganham nova vitalidade, inseridas neste contexto tão próprio e a que o público incidente tão bem reconhece e acarinha.