Variante dos Capuchos, Leiria
Esta intervenção consistiu no acompanhamento arqueológico efetuado no âmbito do projecto de construção da Variante dos Capuchos, tendo sido levada a cabo entre 21 de Agosto de 2014 e 19 de Junho de 2015. É de salientar a identificação de diversos contextos arqueológicos enquadráveis numa ampla diacronia, desde a Pré-historia Antiga (Paleolítico Inferior) à Época Contemporânea, que permitem perspectivar a ocorrência de quatro grandes momentos onde se integra a identificação de quatro sítios arqueológicos designados Capuchos 1, 2, 3 e 4.
O primeiro momento corresponde à identificação dos sítios Capuchos 1 e 4. O sítio designado Capuchos 1 corresponde a um terraço fluvial localizado entre as cotas 50 e 45 m, o que sugere a sua correspondência estratigráfica com a formação F1 definida por Cunha-Ribeiro (1999), tendo aparentemente sido formado pelo Rio Lis. Este terraço corresponde ao encaixe do rio no Plistocénico, recortanto o substrato constituído por Margas da Dagorda. É neste contacto que os depósitos quaternários se formam através de uma série de processos dinâmicos de deposição/erosão.
Os materiais líticos foram identificados nestes depósitos plistocénicos, enquadrando-se cronoculturalmente no Acheulense (Paleolítico Inferior). A relevância arqueológica destes materiais e, por conseguinte, dos depósitos plistocénicos, é a sua contemporaneidade com as primeiras ocupações humanas na Europa, pelo que o seu estudo assume uma extrema importância. Para além disso, é também necessário referir o valor do património geológico que este sítio tem, tendo em conta as evidências dos fenómenos tectónicos aqui identificados. Como esta área ainda conserva vestígios desta formação, recomendou-se que qualquer outra intervenção nesta área fosse objecto de acompanhamento arqueológico e geológico.
Capuchos 4 corresponde à identificação de um nível de provável génese fluvial e fraca energia, a que se associa um conjunto de materiais líticos em quartzito e em sílex que, em geral, apresentou um bom estado de conservação das fracturas, indicando que estes materiais sofreram pouco transporte. As características tecnológicas observadas não permitiram o seu enquadramento num período cronocultural específico, pelo que remetemos a sua inserção ao Paleolítico indiferenciado. Note-se que para futuras intervenções em áreas adjacentes seria importante verificar a probabilidade da sua extensão.
O segundo momento associa-se à identificação do sítio Capuchos 3, a que corresponde um conjunto de estruturas negativas do tipo “fossa” e cronologia indeterminada. Efectivamente, a caracterização destas estruturas no âmbito desta intervenção pautou-se por uma considerável afectação das mesmas que poderá ter contribuído para a indeterminação da sua cronologia, no entanto, as características observadas ao nível da sua morfologia, dos seus enchimentos, bem como a sua residual componente artefactual associada, não permitem que se descarte a possibilidade da sua inserção na Pré-história Recente.
No terceiro momento integra-se o sítio arqueológico Capuchos 2, a que se associa um conjunto de segmentos de muro em pedra calcária e argamassa cujos alinhamentos permitiram equacionar a possibilidade de se tratar da cerca do Convento dos Capuchos. Além destas estruturas, salienta-se a identificação de variadíssimos contextos enquadráveis na Época Moderna, entre os quais, a presença de estruturas do tipo caneiro, uma estrutura do tipo “fossa” e a calçada de acesso ao Convento, pelo que se propôs o acompanhamento arqueológico das área contíguas à localização destas estruturas.
Finalmente, atribuímos um quarto momento aos vestígios atribuíveis ao séc. XX, destacando-se a presença de sistemas de captação e condução de águas (poços, caneiros, depósitos), cuja relevância se prende mais com o seu carácter etnográfico e arquitectónico.