Palácio Ficalho, Rua dos Caetanos n.º 18-20, Lisboa
O Palácio dos Marqueses de Ficalho integra a lista de bens de interesse municipal e outros bens culturais imóveis do Plano Diretor Municipal de Lisboa, localizando-se no Bairro Alto, Conjunto de Interesse Público, encontrando-se os projetos de arquitetura sujeitos a parecer vinculativo da administração do património cultural.
Em função dos dados disponíveis na bibliografia geral e específica e da informação constante nos processos atinentes ao imóvel sito nos n.º 18-20 da Rua dos Caetanos, compulsados nos arquivos da Direção Geral do Património Cultural e da Câmara Municipal de Lisboa, é possível afirmar com segurança que o Palácio Ficalho entronca o fluxo do segundo momento histórico de crescimento do Bairro Alto (séculos XVI/XVII).
Compulsados e analisados os processos camarários que lhe concernem, podemos estabelecer os seguintes aspetos basilares no que se refere à biografia arquitetónica do Palácio Ficalho: fundação num momento posterior a 1593; reconstrução na sequência de um projeto de 1882; separação do módulo da Rua Luz Soriano c. 1940; intimação camarária à realização de obras em 1968 desencadeada pela Polícia Municipal; projeto (não completamente concretizado nas partes exteriores) de profundas alterações, visando a “divisão do prédio [de 1600 m2] em várias habitações independentes, funcionais e de dimensões razoáveis (…)” (Arquiteto Manuel de Mello, 1980).
É notável, particularmente na segunda metade do século XX, a convivência e concomitante dinâmica processual e arquitetónica com o vizinho edifício da Editorial Livros do Brasil (n.º 22-24 da Rua dos Caetanos) da autoria de Keil do Amaral e assumidamente disruptivo com o existente.
São de destacar pela sua notoriedade, no quadro da história lisbonense e nacional, os proprietários de um Palácio que ao correr de um longo século assistiu ao fim da Monarquia Constitucional, ao Regicídio e à Implantação da República; à Ditadura Militar de 1926 a 1933, ao Estado Novo, à Revolução de 25 de Abril de 1974 e à implantação de um Estado de Direito Democrático. A tudo isto foram assistindo o Conde de Ficalho (1892), Dona Maria Josefa de Melo (1929), Francisco Melo e Costa, Marquês de Ficalho (1943) e António Martim de Mello, Marquês de Ficalho (1989).
Atualmente, o Palácio Ficalho pouco conserva da sua coerência arquitetónica de outrora, parcelarmente observável no exterior, porém parcamente conservada nos seus espaços interiores. Sempre sob o nobre e lesto peso do Tempo, que aristocraticamente Yourcenar nomeou, noutro lugar, «esse grande escultor».