Ecomuseu do Seixal, escultura Mercúrio
A intervenção de conservação e da primeira parte da investigação de caracterização estrutural e de superfície da escultura Mercúrio foi realizada pela ERA-Arqueologia em 2006. Esta escultura em liga de cobre foi encontrada num contexto romano do século III depois de Cristo, junto ao rio Tejo, dentro de um contentor de cerâmica, por baixo de um muro romano, sendo proveniente do Ecomuseu do Seixal.
Este trabalho teve três objectivos: limpeza, estabilização e protecção do Mercúrio, com vista a aceder à sua informação formal, e à sua salvaguarda para as gerações vindouras; caracterização estrutural e de superfície da escultura; e aprendizagem de metodologias de exame e análise, incluindo a familiarização com os respectivos equipamentos, nomeadamente a radiografia digital, a espectrometria de fluorescência de raios X e a micro-difracção de raios X.
A escultura apresentou-se muito alterada por 1800 anos de estadia num vaso cerâmico, cápsula do tempo, cheio de terras e areias, num meio de incineração, em que as terras junto à superfície do objecto apresentavam pequenos fragmentos de carvão. O vaso achava-se sob um muro romano, o que o preservou de ser fisicamente danificado e/ou encontrado.
A partir do estudo de radiografia e da análise dos principais constituintes do objecto, pudemos tirar algumas conclusões: o objecto é composto por dois elementos em ligas distintas, o corpo do objecto por um bronze com alto teor de chumbo, e o cajado, um latão; o corpo do Mercúrio foi fundido com um molde de duas partes, na posição vertical; esteve provavelmente enterrado de costas virado para baixo.
Durante o enterramento a escultura preservou bem a sua forma, porque sofreu processos de corrosão lentos, e esteve fisicamente salvaguardada de lexivação, mas sofreu uma grande contaminação por sais, dada a sua localização geográfica – junto ao leito do rio – apresentando muitos compostos que incorporaram cloro. Assim, recomendou-se um cuidado extremo do ponto de vista da prevenção da deterioração, minimizando a acção da água e da humidade sobre o objecto. Dada a fragilidade do conjunto, nomeadamente do cajado, sugeriu-se uma minimização do manuseamento do objecto e a sua manutenção em ambiente seco (abaixo dos 30% humidade relativa).