Casa dos Patudos, Alpiarça (2ª intervenção)
Executada em 2011, esta escavação arqueológica visou dar resposta às exigências do IGESPAR relativas à minimização de impactes sobre o património arqueológico decorrentes do projecto de renovação da Casa dos Patudos, em Alpiarça. Após a identificação de vestígios arqueológicos na Sala de Arqueologia deste edifício, nomeadamente, vestígios osteológicos humanos e uma eventual estrutura de combustão, realizaram-se trabalhos de diagnóstico arqueológico de forma a melhor compreender estas realidades.
Estes trabalhos consistiram na limpeza de superfície de toda a área da sala, para possibilitar uma leitura espacial da mesma, e na escavação de duas sondagens arqueológicas de diagnóstico de 1,5mX1,5m, implantadas nas zonas onde surgiram vestígios osteológicos humanos (sondagem 1) e cerâmicos (sondagem 2). Como não ficaram resolvidas certas questões, foram determinados novos trabalhos que tinham como pressuposto a escavação arqueológica das estruturas negativas e a escavação do nível arenoso até menos de 10 cm da cota de afectação da obra.
Na sondagem 1 identificou-se uma sepultura escavada em fossa, na qual estava presente um enterramento. Os ossos já levantados no local, pela GNR, nomeadamente parte de um crânio e de um úmero direito, deviam assim corresponder a este enterramento. Revelou-se a presença de um indivíduo em conexão anatómica, que apresentava um mau estado de preservação da metade superior do esqueleto e um muito bom estado de preservação da metade inferior. Tanto quanto foi possível avaliar, a única perturbação pós-deposicional que afectou o indivíduo foi aquela causada pela obra e que resultou na identificação dos ossos referidos.
Orientado no sentido N – S, o esqueleto encontrava-se em decúbito dorsal, com os membros inferiores estendidos e os superiores flectidos sobre o tórax. Embora compatível com contextos funerários cristãos, não foi possível enquadrar inequivocamente o indivíduo neste âmbito, uma vez que: se desconhecia o seu contexto cronológico; se encontrava aparentemente isolado e não enquadrado numa necrópole; e se desconhecia a existência de uma igreja neste local, presente ou passada. Não foram identificados materiais ou espólio arqueológico associados a esta sepultura, escavada sobre um nível estéril, não sendo possível apontar uma cronologia para este enterramento.
Nos trabalhos anteriores na sondagem 2, observou-se a presença de uma pequena estrutura de combustão associada a cerâmica comum de difícil atribuição cronológica. Não se observou nenhuma relação entre esta estrutura e a sepultura da sondagem 1, nem se identificou nenhum outro contexto arqueológico associado a esta estrutura. Contudo, parecem relacionadas, bem como a zona de combustão, uma vez que são as únicas estruturas que se encontram por baixo das paredes da sala e cortadas por estruturas negativas mais recentes. Podem não ser contemporâneas umas das outras, mas são seguramente anteriores à construção da Sala de Arqueologia.
Devido à importância do edifício como casa-museu e do seu espólio diversificado, propôs-se que, futuramente, os artefactos arqueológicos que se encontravam arrumados na Sala de Arqueologia fossem alvo de tratamento e diagnóstico de forma a ser partilhada a informação da sua existência não só com a comunidade cientifica, como também com a população em geral. Considerámos que seria uma mais valia para o projecto de recuperação em curso na Casa dos Patudos.