Rua da Junqueira, 156
Ao longo da segunda metade de setecentos assistiu-se ao aparecimento, em Belém, de diversas oficinas de artífices e de algumas indústrias. As primeiras décadas da centúria seguinte ficaram marcadas pelo efectivo desenvolvimento de um pólo fabril, em particular na zona de Pedrouços e Bom Sucesso, que abrangia produções tão diversas como as dos curtumes, cordoaria, estamparia, vidros, louças, tecidos de algodão e de seda, entre outras.
Em Portugal os primeiros esboços do que viria a ser a indústria de curtumes começam a surgir nos séculos XVI e XVII. No entanto, os curtumes só nascem verdadeiramente enquanto indústria em Portugal em meados do século XIX em resultado do advento da revolução industrial, nascida na Inglaterra, e que progressivamente se foi estendendo ao resto da Europa. A manufactura artesanal vai dando lugar à mecanização, multiplicando o rendimento do trabalho e aumentando a produção global.
O desenvolvimento industrial da freguesia de Santa Maria de Belém acentuou-se ao longo da segunda metade de oitocentos. Um inquérito realizado em 1881 dá-nos conta da existência de, pelo menos, vinte e cinco fábricas no eixo Alcântara-Belém, que empregavam cerca de 1215 homens, 812 mulheres e 432 menores. Estávamos em plena revolução industrial e Belém encontrava-se na charneira dessa forte mudança social. Este fenómeno trouxe um outro, que foi o da fixação de uma população operária e o consequente surgimento dos primeiros pátios e bairros proletários.
No decurso dos trabalhos de acompanhamento arqueológico da empreitada em curso no nº 156 da Rua da Junqueira, foram postas a descoberto uma série de estruturas relacionadas com unidade de carácter industrial dos inícios do Séc. XIX (fábrica de curtumes). Até ao momento foram identificadas (encontrando-se em processo de registo) 21 compartimentos (tanques) aos quais acrescem: um muro em alvenaria com elementos de basalto e calcário ligados por argamassa semi-compacta alaranjada que será posterior a estas realidades, duas caleiras (ema em calcário e outra em tijoleira) também posteriores aos tanques, uma coluna, entre outros elementos esruturais. Os mencionados tanques encontram-se delimitados por paredes em calcário (pequenos e médios elementos pétreos ligados por argamassa de cor esbranquiçada), apresentando nalguns pontos vestígios de estuque. Para além destes, ainda foram registados muros limite de tanques que apresentam paramentos em alvenaria similar mas com o miolo em terra. Nas zonas em que o reboco se conservou são visíveis em intervalos regulares, reentrâncias de forma côncava e vertical (acompanhando a parede dos tanques em toda a sua altura).
Fábrica de curtumes da Junqueira - Escavação arqueológica em c... ERA Arqueologia em Quarta-feira, 20 de janeiro de 2016