Rua dos Sapateiros (130-144)/Rua da Assunção (73-77), Lisboa

Os trabalhos arqueológicos enquadrados no empreendimento de requalificação urbana do edifício sito na Rua dos Sapateiros, n.º 130-144, na esquina com a Rua da Assunção (n.º 73-77), em Lisboa, foram adjudicados à ERA pela Construtora Udra Lda. e decorreram entre os dias 7 e 27 de Março de 2013.

Uma vez que este imóvel se localiza numa zona 2 do PDM – Plano Director Municipal da Cidade de Lisboa, numa área de elevado potencial arqueológico, foram programadas acções prévias de diagnóstico arqueológico, com o objectivo genérico de procurar compreender a estratigrafia do espaço e fornecer dados para a posterior instrução do projecto de obra.

Levou-se a cabo um conjunto de 4 sondagens arqueológicas implantadas quer na área da futura cave para instalações técnicas, visando aferir a viabilidade da sua construção, quer nas extremidades do edifício, procurando avaliar o estado das fundações do mesmo. Assim, foram realizadas duas sondagens (Sondagens 1 e 3) na área prevista para a cave de instalações técnicas, até à sua cota de afectação, procurando-se aferir a viabilidade da sua construção.

Foram ainda executadas mais duas sondagens nas extremidades do edifício (sondagens 2 e 4), destinadas a aferir o estado das suas fundações. Embora se previsse que pudessem decorrer até ser atingida a base da fundação, este objectivo não foi cumprido, considerando a profundidade a que as fundações se encontravam e a dimensão das sondagens realizadas.

A estratigrafia observada nas sondagens 1, 2 e 3 desenvolvia-se em paralelo, demonstrando a preservação de um conjunto variado de realidades enquadráveis em três grandes momentos cronológicos da história de Lisboa. Os contextos mais recentes estavam associados à construção do edifício actual, com alguns níveis de aterro e os seus alicerces. Trata-se de um edifício construído durante a reconstrução da baixa pombalina, embora de construção tardia, com materiais já associados a finais do século XVIII/1ª metade do século XIX.

Já entre os 3m e os 4m de profundidade foram identificadas, nas sondagens 2 e 3, possíveis estruturas de áreas habitacionais, conquanto correspondessem a realidades parcelares e pouco compreendidas, para as quais se apontou uma cronologia medieval islâmica.

Considerando o projecto, e tendo em conta a presença de contextos arqueológicos preservados até à cota prevista para a instalação da cave, preconizou-se a necessidade de os labores com afectação do subsolo ou movimentação de terras serem precedidos de escavação arqueológica integral dos contextos preservados, com vista a garantir a minimização e salvaguarda dos vestígios patrimoniais existentes.

 

ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO

No âmbito do projecto de reabilitação do edifício sito na Rua dos Sapateiros, n.º 130, em Lisboa, programaram-se um conjunto de trabalhos arqueológicos que se iniciaram com o acompanhamento do rebaixamento geral do pavimento até 60 cm de profundidade. Previa-se apenas a afetação de níveis de aterro pombalinos associados à construção do mesmo edifício (conforme os resultados das sondagens arqueológicas realizadas previamente).

Durante estes trabalhos confirmou-se a presença dos referidos níveis de aterro, tendo ainda sido localizadas diversas estruturas, todas elas relacionadas com o edifício atual, ainda que correspondentes a diversas fases de construção/remodelação do mesmo.

A primeira fase de construção deste edifício representa-se pela presença de um conjunto de muros de alvenaria que serviram de fundações para as suas paredes, entretanto já desmontadas no âmbito da sua reabilitação. Pertence também a este momento da construção pós-terramoto do edifício uma estrutura de poço com o mesmo método de construção, tendo o interior sido revestido por blocos de calcário aparelhados. Este encontrava-se preenchido por entulho muito recente.

Este momento inicial de construção seria seguido de algumas remodelações do espaço interior do edifício, com alterações na sua compartimentação, altura em que se deveria ter realizado o abandono de utilização do referido poço. Estas remodelações estão representadas pelas fundações observadas no limite Sul, construídas com calhaus de calcário irregulares e fragmentos de tijolos maciços, ou pelas alterações realizadas já em período contemporâneo, utilizando tijolos industriais e betão.

Após a identificação das estruturas, procedeu-se ao seu registo gráfico e fotográfico. Considerando que as mesmas se encontram caracterizadas, correspondendo a fundações e a um pequeno poço de cronologia moderna (2.ª metade do século XVIII/século XIX), solicitou-se o seu desmonte parcial até à cota de 60 cm abaixo do anterior pavimento de circulação.

 

 

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