Antiga praia de Santos, Lisboa

A antiga praia de Santos (Lisboa), localizada num dos edifícios entre o largo do Conde Barão e a rua D. Luis I , foi uma obra com uma duração de 2 anos. Nestes anos, a ERA teve a honra de participar, desde muito cedo, no projecto que virá a ser a sede da seguradora Fidelidade Property Europe. A estreita relação entre as duas entidades permitiu não só que a ERA reconhecesse, através das diversas intervenções, poços geotécnicos, bem como o desmonte de estruturas que, desde cedo, apresentaram uma grande potencialidade, permitindo uma resposta rápida e com os meios necessários face às necessidades existentes. A última etapa dos trabalhos arqueológicos, fase de escavação, teve início em Abril de 2016, tendo terminado em Novembro de 2016.

As primeiras estruturas registadas remetem-nos para os vestígios da antiga fábrica metalúrgica Vulcano e Colares, cuja actividade no local remonta a meados do século XIX. Foram os primeiros a emergir das escavações arqueológicas recentemente concluídas na zona da Boavista, em Lisboa. Mas para lá desta primeira fase industrial, os arqueólogos da ERA localizaram também várias estruturas e materiais associados a um passado bem mais longínquo: a praia que viria a ser terreno conquistado ao rio através da construção de aterros.

As instalações fabris, que acabaram por ser vendidas por Henrique Sommer na década de 30 do século XX e que tiveram diferentes utilizações, foram postas a descoberto e registadas. Estas demonstraram as diferentes fases da vida da fábrica, tendo sido possível identificar marcas do tempo em que se trabalhava com a tecnologia a vapor, assim como outras de quando a energia eléctrica já se encontrava presente  Após o desmonte dos alicerces da fábrica, que se estendia para lá dos limites do actual edifício, os arqueólogos depararam-se com contextos de realidades portuárias. Em primeira instância, verificaram-se várias realidades distintas: uma relacionada com a utilização do local como cais e outra com o passado ligado à construção naval.

A este nível foi revelada uma estrutura para utilização portuária, construída com o reaproveitamento de peças náuticas de madeira, de uma, ou mais, antigas embarcações. O cais/rampa suspensa, de madeira, perpendicular ao rio, reflecte um planeado sistema de construção, que permitisse resistir às influências das marés, bem como sustentar uma estrutura de topo de apoio à carga e descarga de pessoas e bens, provenientes das embarcações que ali se acostavam. Por fim, a sua função de estaleiro de construção naval na praia fluvial, com vários elementos de madeira de feição náutica, fica evidenciada pelos vestígios abundantes de desbaste e corte de madeira.

O conjunto artefactual exumado constitui um importantíssimo testemunho da relação da cidade com o rio Tejo, bem patente em alguns dos vestígios encontrados. Entre eles um conjunto de toros de madeira de grandes dimensões, com marcas de preparação gravadas, restos de uma pequena embarcação, uma âncora com cepo de madeira e dois canhões. A estes podem adicionar-se os não menos relevantes fragmentos de porcelana, faiança, vidro e cerâmica, que expõem o papel comercial de Lisboa dos séc. XVII, XVIII e XIX.

Este projecto, agora numa nova e importantíssima etapa, destina-se a preservar, conservar e a registar as peças exumadas, com vista à publicação científica e preservação/musealização destes objectos de importante valor histórico e simbólico.

A intervenção arqueológica da ERA, assessorada pelo CHAM – Centro de História Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa, foi executada por uma equipa interdisciplinar, integrando investigadores da arqueologia terrestre, náutica e subaquática e especialista em geomorfologia, terá uma expressão assídua em eventos científicos e tendo sido intensamente acompanhada pelos media. O trabalho de investigação em curso assume, desde início, uma dupla componente de rigor científico e divulgação para um público generalizado.

 

 

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