Requalificação da Rua da Vitória, Lisboa
Enquadrados no empreendimento de Requalificação da Rua da Vitória, estes trabalhos arqueológicos decorreram entre Outubro de 2012 e Agosto de 2013. Desenvolveu-se o acompanhamento arqueológico da abertura de valas ao longo de toda a rua para colocação de galerias técnicas, com o objectivo de passar infraestruturas de gás e água no interior das mesmas, assim como de todos os rebaixamentos, valas para infraestruturas e travessias.
Os trabalhos de escavação de valas foram todos elaborados na presença de um arqueólogo, no âmbito dos quais foram detectados vários contextos e realidades arqueológicas. Após a sua identificação levou-se a cabo a limpeza das mesmas, o seu registo gráfico e fotográfico e, quando necessário, procedeu-se ao desmonte (parcial ou total) de algumas das estruturas identificadas.
Com efeito, no decorrer dos trabalhos foi possível identificar várias sucessões de realidades que correspondem a distintos momentos, que dividimos cronologicamente, correspondendo a ocorrências associadas aos séculos XVIII e XIX, designadamente estruturas de saneamento pombalinas. Assim, foram observadas duas tipologias de caneiros.
A primeira corresponde aos caneiros principais localizados na Rua do Ouro, Rua Augusta, Rua da Prata e Rua dos Douradores, que apresentam um alçado em pedra de calcário com argamassa de areia e cal amarelas, apresentando um topo abobadado em pedra; os restantes caneiros, que fazem ligação com os principais, nomeadamente os que percorrem toda a Rua da Vitória, encontram-se em cotas bastante distintas, indiciando uma complexa rede hidráulica.
A segunda tipologia respeita aos caneiros secundários, que fazem ligação aos edifícios pombalinos e se caracterizam por um alçado em pedra de calcário com ligante em argamassa de cal e areia de cor amarela e o topo abobadado em tijolo de burro. Alguns destes caneiros ainda estão em funcionamento, fazendo o escoamento para os caneiros principais.
Verificaram-se também contextos pertencentes ao século XVII, sobretudo associados a alicerces e compartimentos que pertencem a antigas habitações, assim como a arruamentos anteriores ao terramoto de 1755. Por fim, não podemos deixar de referir que a Rua da Vitória seria uma não existência na Lisboa pré-pombalina, onde as ruas não teriam um traçado ortogonal, mas sim uma sucessão de ruas, becos e travessas, associados a edifícios sem qualquer organização arquitectónica.