Circuito Hidráulico de Roxo-Sado, Porto Monte Coelho
Concretizada entre 9 de Dezembro de 2015 e 21 de Abril de 2016, esta intervenção no sítio do Porto Monte Coelho (São João de Negrilhos, Aljustrel) decorreu no âmbito do Circuito Hidráulico de Roxo-Sado (Fase de obra). Adjudicada à ERA-Arqueologia pela EDIA S.A., efetuou-se no seguimento da descoberta, em trabalhos de decapagem mecânica, de estruturas e alinhamentos pétreos.
Foram identificados e caracterizados os vestígios remanescentes de um moinho, encontrando-se a referida estrutura bastante destruída. De facto, restava apenas a sua parte inferior na qual se conservam parte dos dois canais de condução de água, a zona de descarga onde se encontravam os dois rodízios e o canal de escoamento da água após a passagem pelos rodízios.
A oeste dos canais, a uma cota superior à dos restantes vestígios, foi identificado o remanescente de um compartimento de plano retangular que se encontrava cortado. Se tivermos em conta a arquitetura genérica de um moinho de água horizontal, constituído por dois andares, um inferior onde se localiza o rodízio e os canais da água e um superior onde se localiza a mó e se processa a moagem, assumimos que o mencionado compartimento formaria parte do andar superior do moinho, aproveitando o declive do terreno para a sua implantação.
Associado à estrutura do moinho, encostando-lhe, existia um empedrado delimitado por uma estrutura. Este espaço poderia eventualmente servir de área de armazenagem quer da matéria-prima, quer da farinha já moída, ou servir de zona de desembarque caso a ribeira do Roxo fosse usada como via de transporte. Não foi, no entanto, possível aferir se esta seria uma área coberta dentro do moinho ou uma zona exterior aberta, eventualmente coberta apenas por algum tipo de telheiro.
Tendo em conta os materiais recolhidos, tanto nos depósitos de enchimento da vala de construção como nos enrocamentos, pode apontar-se a construção desta estrutura para o século XVI. Assumindo a construção deste moinho neste século, colocou-se a hipótese de esta estrutura ter eventualmente sido mandada erigir pela Ordem de Santiago de Espada, no âmbito da comenda de Aljustrel concedida por Afonso III a esta mesma ordem.
Para além dos vestígios relacionados com o moinho, foram identificados materiais arqueológicos enquadráveis cronologicamente na pré-história recente. Estes reportaram-se a um fragmento de cerâmica manual, fragmentos de sílex e artefactos líticos tipo machado e percutor. Tendo em conta a sua escassez, não se determinou com rigor se existia na área intervencionada uma anterior ocupação pré-histórica, no entanto, a ocorrência destes materiais apontou para a existência de vestígios preservados desse período nas proximidades do local, eventualmente no topo da encosta onde o moinho se situa.