Rua dos Correeiros 130-134/Rua da Assunção 41-47, Lisboa
Adjudicados à ERA-Arqueologia pela Europombalina Sociedade Imobiliária, Lda., estes labores arqueológicos decorreram entre os dias 3 e 16 de Junho e de 9 a 16 de Julho de 2014. Desenvolveram-se no edifício sito na Rua dos Correeiros 130-134/Rua da Assunção 41-47, no âmbito das obras de remodelação a efectuar no imóvel, destinado à instalação do BEHosteLisboa.
Os trabalhos consistiram na realização de 10 sondagens de diagnóstico localizadas em áreas previstas afectar pelo projecto de execução da obra, designadamente, nas zonas de implantação das câmaras de inspecção referentes à rede de drenagem de águas residuais (esgotos domésticos e pluviais no Piso 0 e bomba de elevação de esgotos na Cave) e nas áreas afectas à construção das valas perimetrais.
Após a conclusão destes trabalhos foi elaborada uma nota técnica de acordo com parecer da DGPC onde constavam os resultados da intervenção e se preconizava como medida de minimização para a área de afectação remanescente (valas de ligação, rebaixamento de cota) o acompanhamento arqueológico.
Os trabalhos de acompanhamento arqueológico vieram confirmar a estratigrafia identificada no âmbito dos trabalhos de diagnóstico anteriormente realizados. Assim, foi possível identificar contextos arqueológicos que se enquadram na sua maioria no período pós-terramoto e em época contemporânea.
Não obstante, foram também registados alguns contextos pré-existentes ao sismo de 1755, destacando-se o alicerce identificado na sondagem 5, cuja orientação difere do edifício atual e consequentemente da organização arquitectónica daquele espaço após o terramoto, parecendo enquadrar-se na orientação que aquele quarteirão apresentava antes do sismo conforme a planta da autoria de Carlos Mardel.
Os vestígios associados ao período pós-terramoto estão relacionados com a construção do edifício manifesto nos alicerces das paredes Norte, Este e Oeste, bem como, na rede de saneamento identificada ressalvando-se neste caso o caneiro registado nas sondagens 1 e 2. No mesmo período, enquadra-se o poço detectado na sondagem 3 e 8, sendo este tipo de estruturas comum nos edifícios pombalinos, destinando-se não só ao abastecimento de água para uso doméstico, mas também para assegurar água no combate aos fogos que por vezes desferiam na cidade.
Em época contemporânea e concretamente no século XIX registaram-se diferentes níveis de pavimentação e aterro do espaço, destacando-se neste último caso, o depósito de matriz arenoargilosa e coloração negra, identificado nas sondagens 3, 4, 8 e 9, que terá sido afectado por um incêndio no decurso de oitocentos. É provável que o lajeado identificado nas mesmas sondagens resulte de uma remodelação do espaço após os danos causados por este incêndio.
No século XX foram construídas diversas estruturas de betão, registadas na sondagem 7, associadas à edificação da Cave do edifício e das escadas que lhe dão acesso. No mesmo século foi construído com tijolos de dois furos e cimento, o caneiro registado no âmbito do acompanhamento que, tal como a manilha de grés identificada na sondagem 6, estão relacionados com remodelações efectuadas na rede de saneamento do imóvel. Referência ainda para o piso de circulação actual, removido no contexto da obra e associado à última fase de ocupação do edifício enquanto estabelecimento comercial.
Na sondagem realizada na Cave (sondagem 10), após a remoção do actual nível de circulação, verificou-se a presença de uma estrutura em argamassa e pedra que ocupava toda a área intervencionada. Refira-se que foi adoptada uma solução técnica que permitiu que esta estrutura não fosse afectada no âmbito da empreitada, razão pela qual não foi possível compreender a natureza da mesma.