Empreendimento Rei Ramiro Terraces, Vila Nova de Gaia
Realizada entre 16 de Fevereiro e 15 de Abril de 2016, a intervenção arqueológica realizada no âmbito do Empreendimento Rei Ramiro Terraces, na Rua do Rei Ramiro/Cais de Gaia, pôs em evidência uma sequência de ocupações balizadas entre o séc I a.C e a Idade Média, que se consubstanciam em vários edifícios bastante truncados, cobertos por depósitos com uma espessura variável entre os 30 e os 80 centímetros.
Verificou-se uma inclusão abundante de material que abrange um lato quadro temporal – com predominância de ânforas e cerâmica comum de cronologia romana – e que evidenciam uma dinâmica deposicional bastante alterada, seja por aterros e desterros efectuados ao longo dos séculos, seja por deposições naturais provenientes da vertente localizada a Sul da área intervencionada.
As estruturas mais recentes identificadas no Setor 3 indiciam a utilização deste espaço até tempos bem recentes para a prática agrícola. Sob um depósito espesso com presença de material enquadrado entre a Idade do Ferro e o século XX, identificámos um segmento de muro em alvenaria de granito, ao qual estava associado um nível de circulação compacto e que pode corresponder a um antigo caminho anterior ao atual. Não conseguimos aferir cronologias para esta estrutura, ainda que parecesse não ter qualquer relação temporal com as estruturas identificadas nos restantes setores.
O material arqueológico exumado no Setor 2 indicia uma ocupação medieval, com numismas e cerâmica enquadrados entre o século XI e o século XIV, associados a segmentos de muros em alvenaria bastante arrasados, cuja planta resulta bastante incipiente e não nos permitiu aferir qualquer funcionalidade a estas estruturas. Estas cobriam uma camada com presença abundante de cerâmica enquadrada entre a Idade do Ferro e a Idade Média, que parece corresponder a um aterro para regularização da plataforma.
No Setor 1, identificámos indícios de uma ocupação tardo-romana, com presença de material, sobretudo cerâmica fina de importação, enquadrado entre o século IV e o século VI. Neste setor verificámos a ocupação mais bem preservada desta plataforma, com génese no século II-I A.C, sendo composta por um grande edifício em alvenaria de granito bem aparelhado, de planta subrectangular, dividido em pelo menos 4 compartimentos, com uma série de muretes. Este edifício poderia corresponder a um espaço de armazenamento implantado na encosta mais abrigada e menos soalheira do morro do Castelo de Gaia, sobre uma via natural para escoamento e receção de produtos.
O edifício encontra-se destruído ao longo do que seria a sua fachada Norte, facto que cerceia a reconstrução da planta do mesmo e não nos permitiu aferir a sua largura ou a existência de outros volumes adossados a Norte. Esta ruína parece resultar de um aluimento ocorrido entre as duas fases de ocupação mais antigas desta plataforma, sendo que a ocupação tardo-romana parece aproveitar o desnível criado por este hipotético aluimento, para implantação de muros de socalco que contivessem a plataforma remanescente.
A escavação deste grande edifício foi interrompida aquando da derrocada do muros de sustentação, pelo que os dados disponíveis não nos permitiram aferir um quadro cronológico mais preciso, dependendo a confirmação da existência de outros compartimentos para Este e para Oeste, e de outros volumes a Sul, da continuação da intervenção. O mesmo se aplica aos depósitos sobre os quais se implanta o edifício do século II-I a.C., os quais não foram intervencionados no decurso desta fase e forneceriam dados importantes para a compreensão da génese do edifício e da própria plataforma onde ele se implanta.