Bloco de Rega de Ferreira, Figueirinha e Valbom, Monte Cardim 6
Enquadradas na execução do Bloco de Rega de Ferreira, Figueirinha e Valbom (Fase de Obra), as escavações arqueológicas realizadas no sítio do Monte Cardim 6 decorreram em duas fases: a primeira entre 29 de Julho e 25 de Setembro de 2009; a segunda de 1 de Março a 13 de Abril de 2010.
Os trabalhos puseram a descoberto uma múltipla realidade composta por (4) estruturas negativas sub-circulares, uma estrutura quadrangular associada aos trabalhos agrícolas, um sepulcro tipo tholos e dois possíveis (porque não intervencionados) hipogeus em associação com este último. As cronologias, com excepção de uma das pequenas estruturas sub-circulares com materiais modernos, apontaram para a segunda metade do III Milénio, muito embora alguns dos líticos encontrados nos remetessem para cronologias anteriores e algumas tipologias cerâmicas já para o Bronze.
Foram primeiramente intervencionadas as estruturas simples de tipo fossa, circulares, com diâmetros médios de 1 m e profundidades que não ultrapassavam os 0.60 m. Após dois alargamentos mecânicos, deu-se início à escavação do tholos: câmara, corredor e átrio.
Foi posta a descoberto uma construção semi-subterrânea composta por três espaços distintos: um átrio de entrada a Este, com uma morfologia peculiar numa aparente sincronia entre linhas circulares e um espaço sub-rectangular, com uma abertura de cerca de 7 metros de diâmetro; um corredor de acesso, sub-rectangular, com cerca de 6 metros de comprimento por 1m (média) de largura, com evidências de alvéolos e vestígios de esteios; e uma câmara circular com 4 metros de diâmetro, paredes em pedra, arranque de falsa cúpula e buraco de poste central. Tanto a câmara como o corredor de acesso, com um comprimento médio de 5 m, encontravam-se pavimentados com um nível de argilas bem compactadas.
Do espólio registado (não estudado na sua totalidade) destacou-se uma grande concentração de pontas de seta de distintas morfologias e matérias-primas, um predomínio das formas abertas nas cerâmicas manuais simples e decoradas e uma presença mais diminuta de cerâmica campaniforme, representada por exemplares de campaniforme Internacional, pontilhado geométrico e inciso, pequenos recipientes de calcário. Surgiram ainda pequenas taças muito fragmentadas de calcário.
A localização espacial deste local funerário, a sua multiplicidade de formas encontradas – tholos e possível presença de hipogeus – juntamente com uma estratigrafia complexa composta por momentos de utilização, abandono e violação – remeteram-nos para uma análise abrangente de todo o complexo do Porto Torrão, delimitando novos espaços físicos e temporais.
Os limites inicialmente propostos por Arnaud na década de 80 exigem agora uma revisão espacial. As novas descobertas em torno do Porto Torrão, alargam os limites pré-estabelecidos: a Sul com os tholos e hipogeu do sítio em questão, a Este com as estruturas funerárias da Horta do João da Moura (Pereiro, 2010), do sítio do Carrascal 2 (Santos e Granja, 2010) e do Monte do Pombal (Figueiredo e Dias, 2010) (Valera, 2010).
Tornou-se assim obrigatória uma compilação e um estudo dos dados referentes ao sítio do Porto Torrão, de forma a definir um enquadramento espacial, social e temporal do mesmo, enquadrando-o no contexto local e peninsular da Pré História recente.
Terminadas as duas fases de trabalhos, reafirmou-se a necessidade de proceder à escavação dos nichos da parede Sul e fossas associadas, de forma a compreender o monumento na sua totalidade e, desta forma, valorizar a componente histórica da vila de Ferreira do Alentejo.