Rua da Saudade, n.º 2, Lisboa

Realizados entre 20 e 27 de Dezembro de 2004, os trabalhos arqueológicos no n.º 2 da Rua da Saudade, em Lisboa, consistiram na abertura de três sondagens/poço no logradouro do edifício. O objectivo foi diagnosticar a importância arqueológica do sítio e preconizar medidas de minimização de impactes no âmbito do empreendimento que se pretendia ali realizar.

Na sondagem 1, foi identificado um muro construído em alvenaria e um piso em cal, provavelmente dos finais do século XVIII/inícios do século XIX. Na sondagem 2, para além de ter sido observada a continuação da estrutura identificada na sondagem 1, foi registada a presença de uma estrutura de grandes dimensões, que ocupava toda a área da sondagem, hipoteticamente do século XVIII. Na sondagem 3 não foi identificado qualquer tipo de estruturas.

Os materiais contidos nos depósitos registados revelaram-se posteriores aos finais do século XVIII. A sua observação permitiu atribuir uma cronologia post quem de finais do século XVIII-inícios do século XIX para a realidade ocupacional detectada. Já os depósitos escavados deviam corresponder a um momento de regularização do terreno para a construção do logradouro do edifício, nos inícios do século XIX.

Por fim, em função dos resultados disponíveis, considerámos pertinente a aplicação das seguintes medidas de minimização de impactes: acompanhamento arqueológico permanente de escavação manual a incidir sobre a faixa de terreno correspondente às sondagens 1 e 2; remoção integral, por meios mecânicos (ou manuais, se não fossem viáveis os mecânicos), dos remanescentes depósitos de terra do logradouro com acompanhamento permanente por um arqueólogo; e registo gráfico e fotográfico das realidades arqueológicas que fossem detectadas.

 

ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO (2005)

Na sequência do acompanhamento arqueológico efetuado, em 2005, no n.º 2 da Rua da Saudade, foram identificados os vestígios de uma ocupação do período romano materializada num robusto alicerce de um edifício com uma orientação SO/NE, constituído por blocos de calcário, de grandes e médias dimensões, fortemente ligados por uma argamassa amarelada de areia e cal. Esta estrutura era visível numa área de 5,25 m x 2,75 m, apresentando uma espessura conservada de 1,30 m.

O edifício foi arrasado até à sua fundação, no entanto, a compacidade da argamassa conservou o negativo das paredes derrubadas (com cerca de 1m de largura), permitindo observar a existência de um espaço compartimentado e perceber a cota do nível de pavimento.

Um corte efectuado na área central do logradouro em pleno século XX removeu a estratigrafia pré-existente até à cota de afectação da obra, contudo, a manutenção de uma estreita faixa de depósitos preservados, à cota média de 47.60 m, possibilitou um enquadramento cronológico desta estrutura, tendo-se aqui identificado um espólio homogéneo composto por fragmentos de cerâmica comum e terra sigillata hispânica, assentando a sua base num destes níveis.

Numa área mais a Norte, nos depósitos que cobriam o alicerce, recolheram-se fragmentos de cerâmica comum, terra sigillata hispânica e africana, alguns elementos de mármore e um fragmento de edícula em pedra de lioz, possivelmente de finais do século I d.C.

                                                        Fragmento de edícula.

Cofinanciado por: