IC9 – Lanços EN1 (IC2)/Fátima (A1) e Fátima (A1)/Ourém (Alburitel)
O acompanhamento arqueológico realizado no âmbito da construção do IC9 – Concessão Litoral Oeste decorreu entre Maio e Agosto de 2010. O projecto iniciou-se em Porto de Mós, logo após o Nó de São Jorge do IC2 – Variante da Batalha, e terminou em Tomar, no Nó de Vale dos Ovos, com uma extensão de cerca de 40 km, encontrando-se dividido em dois lanços, um designado S. Jorge/Fátima (IC9 J/F), com 19 km e 600 m, e o outro Fátima/Ourém (IC9 F/O), com 20 km.
O objectivo principal foi a salvaguarda do património arqueológico, etnográfico e patrimonial durante os trabalhos de escavação, tendo o acompanhamento sido realizado em conformidade com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) e o Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE).
A primeira parte do troço apresentou uma ocupação do solo composta por zonas agrícolas, florestais e industriais, sendo a primeira dominante em termos territoriais. Relativamente à ocupação agrícola, foi possível observar e registar a presença de conjuntos de poços, muros de delimitação de propriedade e sustentação de terra, bem como casas de apoio agrícola.
No segundo segmento deste lanço, a ocupação humana desta zona está ainda patente na presença de grutas e abrigos no Vale da Pedreira, onde foram identificados fragmentos cerâmicos. Observámos também a existência de inúmeros poços de diversas cronologias, bem como os complexos rurais associados. Também é importante referir a proximidade da área com o santuário de Fátima, facto associado à criação de vias-sacras identificadas por grandes cruzeiros.
A área entre Fátima e Ourém caracteriza-se por um nível de ocupação agrícola muito elevado, sendo testemunhos as várias estruturas de cariz etnográfico identificadas ao longo do traçado: poços, casas de apoio, muros, marouços, marcos de propriedade. Em termos de outros tipos de ocupação, foram apenas detectados alguns achados isolados, materializados em lascas e núcleos. Estes atestam a passagem humana pela região em períodos da pré-história.
Desde Ourém até ao Vale dos Ovos, este troço atravessa o complexo geomorfológico da Bacia de Ourém, área considerada sensível em termos de ocupação humana devido à presença de vestígios enquadráveis na pré-história recente, como são os casos de Zurrague 1 (Anta). Contudo, foram apenas identificados alguns achados isolados na zona do traçado de obra.
Pudemos assim observar a passagem do homem pela área afectadas por estes trabalhos, desde a pré-história, aproveitando os recursos naturais que a natureza lhe oferecia, até períodos históricos com a moldagem do território pelo homem, observável através das inúmeras ocorrências de cariz etnográfico, muros, moroiços, poços, casais agrícolas, marcos de propriedade, etc. Já para os períodos contemporâneos assistimos a uma transformação mais acentuada da paisagem, com a concentração da população residente em núcleos habitacionais industrializados, deixando pequenos núcleos habitacionais separados da malha urbana.
Como medida de minimização, propôs-se a continuação do acompanhamento arqueológico em toda a extensão da frente de obra, seguindo a mesma metodologia.